Pular para o conteúdo principal

Carl Ferdinand Cori e Gerty Cori

Texto publicado originalmente no Jornal o Estado de São Paulo em 22/10/2023



No dia 20 de outubro de 1984 faleceu o cientista Carl Ferdinand Cori, ganhador do Nobel de Fisiologia e Medicina de 1947, dividindo o prêmio com sua esposa Gerty e o cientista argentino Bernardo Alberto Houssay.

A história do cientista, de nacionalidade Checa, tem vários ângulos que podemos explorar. Primeiro como cientista pelas suas descobertas sobre o metabolismo dos carboidratos e pela criação de métodos de pesquisa que são utilizados até hoje na bioquímica. 




Nessas descobertas trabalhou sempre com sua esposa e fez questão de valorizar a grande mulher que não estava por trás dele, mas sim lado a lado. Em uma biografia de Carl há uma citação assim: "Nossos esforços têm sido amplamente complementares; e um sem o outro não teria chegado tão longe quanto chegamos juntos.". Pode parecer pouco, mas quem conhece história da ciência sabe das várias mulheres cujo papel foi minimizado ou apagado. Por exemplo, apenas 6 anos após o prêmio Nobel conquistado pela parceria deles, a cientista Rosalind Franklin foi "esquecida" pelos descobridores da estrutura do DNA, Watson e Crick, descoberta que revolucionou os estudos da biologia e medicina, valendo um Nobel em 1962 (sem Rosalind Franklin). A merecida valorização dada por Carl a Gerty foi bastante pioneira para a época. 
As descobertas científicas dos Cori's foram determinantes na evolução da compreensão do Diabetes e do Câncer. Quando ambos completaram 60 anos, uma revista científica da área publicou uma edição especial em homenagem ao casal, onde nada mais nada menos que 5 futuros ganhadores do Nobel estavam entre os autores. Gerty Cori faleceu pouco depois (1957) em virtude de uma anemia.
Hoje estudantes da área da saúde e da química estudam um ciclo merecidamente batizado com o nome deles (Ciclo de Cori). O legado do casal como cientistas de vanguarda é enorme.
Antes de terminar, só uma provocação bairrista, eles dividiram o prêmio Nobel com um argentino (no total são 5 laureados), e nós aqui a ver navios.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filosofia e (é) autoajuda?

Modernidade Líquida, como dizia o sociólogo Zygmund Buman. As coisas são tão fluidas a partir do que ficou convencionado chamar de pós-modernidade, que o individualismo chegou a um ponto bem fora da curva. Aí o sujeito fica sozinho na multidão e não pode parar, precisa ficar se movendo o tempo todo. Muda de emprego, muda de relação, muda a profissão, muda de cidade, e vai mudando. Afinal, pedra que muito se muda não cria limo jamais [1] . Este limo que a pedra vai juntando em um ponto sólido da paisagem húmida de um bosque, por exemplo, se torna parte integrante desta mesma pedra. Se você retirar o limo e devolver a pedra ao mesmo lugar, pode ter certeza que algo no ecossistema terá que ser readaptado. Tempo para pensar? De jeito nenhum, o líquido é fluido, suas moléculas tem que estar em movimento constante e modificam seu formato de acordo com as fronteiras que aparecem a sua frente. Hora do exemplo dramático, um rio flui através de espaços propícios em um determinado solo, até que e

Professor, além de dar aula você trabalha?

Prof. Lambeau: "Você tem medo de fracassar, e é por isso que você sabota qualquer chance que tenha de realmente ter sucesso." Will: "Você acha que eu sou um fracassado porque quero trabalhar em uma construção?" [1]   A linguagem cria e derruba realidades. Curioso como a escolha de palavras pode ser aterrorizante. Há alguns anos o jornalista Alexandre Garcia [2] fez um comentário em um dos noticiários da televisão aberta, todos os anos o vídeo ressurge das trevas do esquecimento quando chega próximo ao Dia dos Professores. O texto do jornalista a princípio, sem análise crítica, parece uma ode, uma homenagem aos professores e professoras desamparadas, que tem até medo de serem denominadas como tal, preferindo ser chamadas de educadoras ou pedagogas (SIC). Mas qual seria a minha análise crítica do que é proferido pelo jornalista. Ao contrário de elevar a condição de professor, ela rebaixa! Sim, simulando o enaltecer de toda uma categoria, ela coloca todos em

“Momentos de vida real” ou Reflexões Cotidianas ou Filosofia não é só “sexo dos anjos"

A – O Motorista de taxi Fazia um calor argelino e as fagulhas do sol refletidas nas janelas e capôs dos carros feriam os olhos de uma maneira que me fez lembrar Mearsault. O trajeto até era curto, já tinha feito algumas vezes a pé, mas naquele dia eu chamei um taxi. Na rápida conversa sobre as dificuldades do taxista frente a uberização do transporte urbano, veio à tona o assunto de que o Brasil precisava de alguém que fosse “contra tudo isso aí”. Um argumento era que os funcionários públicos eram marajás e recebiam fartos salários as custas dos pobres contribuintes. “Outro dia peguei (SIC) um professor do IFF [1] que disse que ganhava 10 mil reais” – disse ele. Tentei ser o mais socrático que pude na minha fala e perguntei: - É o professor do IFF que ganha muito ou as professoras do município e os taxistas é que ganham pouco? Segundos de silêncio e reflexão. “É talvez o senhor esteja certo, mas tem muita coisa errada por aí”. Fim da conversa, será que naquele momento começava