A – O Motorista de taxi Fazia um calor argelino e as fagulhas do sol refletidas nas janelas e capôs dos carros feriam os olhos de uma maneira que me fez lembrar Mearsault. O trajeto até era curto, já tinha feito algumas vezes a pé, mas naquele dia eu chamei um taxi. Na rápida conversa sobre as dificuldades do taxista frente a uberização do transporte urbano, veio à tona o assunto de que o Brasil precisava de alguém que fosse “contra tudo isso aí”. Um argumento era que os funcionários públicos eram marajás e recebiam fartos salários as custas dos pobres contribuintes. “Outro dia peguei (SIC) um professor do IFF [1] que disse que ganhava 10 mil reais” – disse ele. Tentei ser o mais socrático que pude na minha fala e perguntei: - É o professor do IFF que ganha muito ou as professoras do município e os taxistas é que ganham pouco? Segundos de silêncio e reflexão. “É talvez o senhor esteja certo, mas tem muita coisa errada por aí”. Fim da conversa, será que naquele momento começava...
Parresia era o termo grego dado ao cidadão que tinha a concessão de atuar debatendo e discursando na Ágora. Era concedida somente aos homens (♂️), livres, nascidos em Atenas e raramente concedida a não atenienses. Depois Platão e outros filósofos, entre eles Foucault, foram ressignificando a palavra. Como não sou filósofo, uso aqui o requerer a parresia e trazer sempre "a minha verdade". Foucault diria que sabíamos que alguém a exercia se riscos estivessem envolvidos para essa pessoa.