(apesar das pessoas retratadas, fatos e locais históricos o texto não traduz exatamente como ocorreu a concessão da parresia à Aspásia, só espero que você possa conhecer a existência dessa mulher de uma maneira esteticamente romantizada).
Muitos queriam ouvi-la, mas as regras queriam calar-lhe. Era uma época de democracia limitada, uma mulher extraordinária chamada Aspásia de Mileto ousou desafiar as represas que limitavam o fluxo do livre dizer. Ela ansiava pela parresia, o direito sagrado de expressar-se livremente, mas vivia em uma sociedade que relegava as mulheres, escravos e nascidos em outras cidades-estados o silêncio na Ágora ateniense.
Aspásia era uma mente
brilhante, uma pensadora feroz e uma oradora persuasiva. Ela se recusava a
aceitar a injustiça imposta sobre as mulheres, a proibição de que compartilhassem
suas ideias e contribuições para o mundo. Com uma coragem inabalável e inteligência
perspicaz, ela decidiu enfrentar o sistema e lutar por sua causa.
A estrada que Aspásia
escolheu percorrer estava cheia de desafios e obstáculos. Em uma sociedade onde
os direitos democráticos eram restritos a poucos, aqueles que ousavam desafiar
as normas eram considerados rebeldes perigosos. A punição por exercer a
parresia sem autorização poderia ser a morte. No entanto, isso não a intimidou. Ela sabia
que tinha um fardo importante a carregar e uma mensagem poderosa a transmitir.
Armada com sua sagacidade
e retórica afiada, Aspásia começou a desafiar o status quo. Ela ousou expressar
suas opiniões e compartilhar suas ideias com uma eloquência impressionante.
Seus discursos ardentes ecoavam pelos corredores do poder, desafiando as mentes
fechadas e a tirania do silenciamento. Ela teve defensores fervorosos, mas enfrentou
adversários poderosos que rebatendo seus argumentos. Mas ao expor os argumentos
desnudavam a hipocrisia que os sustentava.
À medida que sua
reputação se espalhava, Aspásia conquistava seguidores e admiradores. Pessoas
de todas as esferas da vida ansiavam por ouvir suas palavras inspiradoras e
perspicazes. Ela se tornou uma luz em meio à escuridão, uma voz destemida em um
mundo dominado pela naturalizada opressão masculina.
No entanto, o caminho de
Aspásia não era fácil. Ela enfrentava a ira dos poderosos, que se sentiam
ameaçados por sua inteligência e influência crescentes sob políticos
importantes. Mas ela não recuava. Ela sabia que a verdadeira mudança só poderia
ser alcançada por meio da coragem e da perseverança. A cada obstáculo que
encontrava, Aspásia se tornava mais forte. Para cada argumento contrário ela
apresentava com inteligência as falhas e falácias. Sustentou determinação a
abrir caminho para a liberdade de expressão.
E então, em meio às
batalhas que travava, Aspásia finalmente alcançou o que tanto buscava. Seu
brilhantismo e sua voz incendiária capturaram a atenção de Péricles, um dos
líderes políticos mais influentes de Atenas. Ele viu nela uma aliada
inestimável, uma conselheira que poderia moldar o destino de Atenas com suas
ideias visionárias. E assim, a parresia foi concedida a ela[1].
PS1 – Durante séculos a imagem de Aspásia foi denegrida
e mutilada. Chamada de cortesã e até de prostituta para tentar diminuir sua
importância, teve seu valor resgatado séculos depois por estudiosos sérios e
hoje é considerada uma das personalidades mais importantes da política
ateniense do século V a.c.
PS2 – Mulheres, por favor me perdoem, se não as compreendo e fui de alguma forma condescendente ou até mesmo fora do local de fala. Mas era meu desejo homenageá-las.
Crédito da imagem: Busto de Aspásia de autor
desconhecido (https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/50/Aspasie_Pio-Clementino_Inv272.jpg)
[1]
Não quero de maneira nenhuma aqui dizer que ela recebeu um presente, uma licença dada por homens superiores, ou diminuir
sua conquista, o verbo conceder aqui faz sentido para a época. A questão é que
a parresia era concedida, seja para quem for. Um homem livre nascido em Atenas tinha
a parresia concedida de acordo com certas premissas. Não foi um
privilégio infundado, foi um privilégio conquistado.
ResponderExcluirMuito interessante. Excelente texto!
Obrigado, espero que continue gostando dos textos.
ResponderExcluirTexto sensível e muito bem estruturado! Parabéns, Professor Marco, colega, filósofo de fina percepção e apreciador da história e das letras! Aprecio e recomendo esta ótima leitura! Cordial abraço!
ResponderExcluirMuito obrigado Professora Hilde, é um privilégio receber sua apreciação.
ExcluirMuito bom Marco, parabéns meu amigo
ResponderExcluirAdorei! Não somente a história, mas a escrita!! Me senti vendo um filme, ou teletransportada para a época, assistindo de pertinho a história de Aspásia.
ResponderExcluirObrigado Ariadne. Fico feliz em saber que essa história contada por mim pode proporcionar essas sensações.
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