Azulejos de Christiaan Huygens

Quando viajo gosto muito de passear pelas ruas das cidades, entrar nos mercados, ver o comercio e tentar absorver um pouco da vida cotidiana de cada lugar. Não sou de conversar, não me sinto a vontade para ficar perguntando as coisas. Mas gosto de observar.

Certa vez tive oportunidade de conhecer Amsterdam, num dia sem compromisso andava pelas ruas da cidade, olhando a arquitetura curiosa de algumas casas me deparo com um painel de azulejos representando Christiaan Huygens cercado por relógios de pêndulo. Não era um museu, não era um prédio público, não era uma universidade. até onde pude saber não era nem a casa dele. O painel ficava na parede de um pequeno prédio de três andares cujo primeiro andar era uma loja.

Tive que parar e fotografei o painel

Fantástico para mim, ver #donada uma imagem homenageando um dos maiores cientistas que já pisaram aqui no nosso pálido ponto azul[1]. Aquele momento me causou um misto de emoções e uma reflexão sobre a importância da ciência em nossas vidas e como custamos a reconhecer os passos dados por vários homens que foram construindo nossa visão do mundo e da natureza, através do estudo meticuloso e metódico das coisas que nos cercam.

Huygens é conhecido por ter descoberto Titã (uma das luas de Saturno) e por ter inventado do relógio de pêndulo. Também teve forte contribuição para a física desenvolvendo uma teoria ondulatória da luz que explicava a refração e reflexão da luz, além da força centrífuga. Ainda contribuiu nas leis de probabilidades estudando jogos de dados, entre muitas outras coisas. É um cara muito importante nas ciências e muitas vezes esquecido em nossas escolas quando comparados a nomes como Galileu e Newton.

E Galileu foi fundamental para Huygens, sua passagem pela Holanda impulsionou o desenvolvimento dos telescópios e de microscópios, ambos com contribuições de Huygens. Assim, como o nada modesto e egocêntrico Newton que o considerava um matemático de primeira categoria.

Huygens foi um dos primeiros a sugerir a existência de micro-organismos que poderiam se dispersar e sua hipótese foi posteriormente demonstrada por Pasteur. Foi junto a um colega, o primeiro a observar os espermatozoides humanos. Foi um homem de seu tempo. A invenção do relógio de pêndulo (idealizado inicialmente por Leonardo Da Vinci) impulsionou as navegações holandesas contribuindo para a medição mais precisa das longitudes em mar aberto. Levou o heliocentrismo copernicano as últimas consequências propondo, como fez Giordano Bruno, a existência de planetas em tono das estrelas (outros sóis) com vida. Dizia que um universo tão vasto sem outros planetas e vidas seria um desperdício.

Na sua infância conheceu Descartes, que era amigo de seu pai, e foi elogiado por ele pelos conhecimentos em geometria. Biógrafos também apontam que na casa paterna era discutida filosofia, dado o conhecimento de seu pai e da importância dele. Assim, teve acesso direto ao pensamento mais avançado de seu tempo.

Um homem de seu tempo. A ciência como a conhecemos hoje, não seria a mesma sem Huygens, e eu estava ali, parado na rua de frente para um mosaico de azulejos o homenageando. Muitas informações passaram na minha cabeça. Faz mais de uma década que tirei essa foto (2012) e ainda me impacta muito revê-la. Pensar em Huygens, Kepler, Galileu, Newton, Darwin e mais uma lista enorme de nomes e de como eles ajudaram na minha formação. Tentar entender como esses caras pensavam, tentar alcançar como quase sem meios técnicos (comparados a hoje é claro) eles chegaram as maravilhosas conclusões. Usando “apenas” a inteligência e razão, aliados a precários instrumentos, para concluir como o mundo que nos cerca é. Continuei minha caminhada, ainda não tinha ido a casa de Van Gogh, muita coisa para uma única existência.

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[1] Frase usada por Carl Sagan em sua série de televisão e título de um de seus livros. O pálido ponto azul era o planeta Terra fotografado em 1990 pela sonda Voyager 1 quando deixava o sistema solar (à 6 bilhões de quilômetros de distância).