Fonte: acervo pessoal do autor Eu caminhava por Pompeia absorto na narrativa da catástrofe . A erupção do Vesúvio impunha-se como chave de leitura de tudo: as ruas interrompidas, os corpos moldados no vazio, a cidade fixada no instante do fim. Pensava em como aquela interrupção violenta teria atravessado a vida cotidiana — o almoço abandonado, a porta não fechada, o gesto que não chegou ao fim. Pompeia, assim percebida, era antes de tudo uma cidade morta , preservada menos por cuidado do que por desastre. Foi então que, em meio ao percurso, cheguei à Casa della Fontana Grande , na Via di Mercurio. E ali, a lógica do fim perdeu força. A fonte não falava de ruína, mas de permanência. Diante dela, a cidade deixou de ser o cenário congelado de uma tragédia para recuperar algo anterior à cinza e à poeira da história: uma cidade viva , organizada em torno do prazer, do olhar, da água que corre. O ninfeu, datado do século I d.C., ocupa o fundo da casa como um ponto de convergência si...
Ano de 1939. A manhã era fria em Berkeley, e a névoa típica da baía ainda pairava sobre o campus da Universidade da Califórnia como um véu fino. Os sinos da torre da Sather Tower já haviam tocado há alguns minutos quando George Dantzig , um jovem de cabelos escuros despenteados pelo vento e olhos ainda pesados pelo cansaço, subia apressado os degraus de pedra do antigo prédio de ciências exatas. Ao entrar na sala de aula, tentou não chamar atenção. O professor Jerzy Neyman , de terno escuro bem alinhado, escrevia no quadro com firmeza, traçando símbolos matemáticos com uma elegância quase coreográfica. A sala estava silenciosa, exceto pelo som do giz riscando o quadro e o leve tilintar de folhas sendo viradas pelos estudantes. George se acomodou no fundo, tirou o caderno do bolso do casaco surrado e olhou para frente. O quadro já exibia dois problemas longos, com equações densas e estruturas algébricas intimidadoras. Achando que eram parte da tarefa da semana, ele os copiou sem pensa...